sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Se joga!


Esses dias resolvi começar uma outra atividade física: jiu-jitsu. Gosto de lutas e a que eu fazia não estava legal na academia que frequento. Como todo início de atividade, sabia que sentiria dificuldades, só não sabia que a minha dificuldade poderia estar relacionada simbolicamente às dificuldades que temos diariamente quando vamos começar algo do zero ou, como diz no texto anterior, recomeçar a partir de experiências já sofridas do passado. E a partir da experiência dessa aula, pensei em escrever esse texto relacionando uma recomendação do jiu-jitsu às nossas dificuldades de recomeço da vida: a frase “se joga”.

Explico: A prática dessa arte marcial exige que você esteja disposto a cair no chão e lutar com seu adversário. Na verdade, grande parte da luta ocorre no chão, no corpo-a-corpo e um dos passos básicos, exige que você caia para derrubar o outro de uma forma que você começa com a vantagem. Pois bem, durante a primeira aula o professor ensinou o passo a passo e quando fui executar, claro, estava com medo de cair no chão, de forma que o exercício não estava sendo bem executado. Escutei então, da colega que estava formando dupla comigo na luta: “Se joga”. Comecei a rir, nervosa, tentando executar, e ela continuou a repetir a frase. O professor se juntou a ela na orientação e disse: “vá, não tenha medo, se jogue”. Dei-me conta então do que significava o “se jogar”, o ir ao chão com a colega sem ter medo de me machucar, mesmo que o significado de cair nos transmita medo. Havia o tatame como proteção, mas ainda assim, como cair sem medo? Aos poucos, fui perdendo o medo e fui executando o passo corretamente. Saí da aula com uma boa sensação de dever cumprido e relacionando a frase a vida.

Quando estamos diante de situações da vida que se parecem com algo que já vivemos, temos o hábito de reagir a elas como se elas fossem situações que já passamos, mas elas nem sempre são, só parecem. E ao reagir como reagimos a situações anteriores, muitas vezes, deixamos de viver novas experiências que poderiam nos trazer benefícios. Por exemplo, ao terminarmos relacionamentos, ficamos machucados com a dor do término e podemos ficar receosos diante de possibilidades de início de outros relacionamentos. Assim, podemos ter comportamentos de fuga de novos relacionamentos ou simplesmente não conseguir interagir de fato com outras pessoas de modo que o relacionamento simplesmente ocorra. (O que a análise do comportamento chama de esquiva) Ou se alguém for demitido e ao ser contratado por outra empresa, tender a emitir sempre comportamentos de fuga de situações que na empresa anterior levaram à sua demissão, o que não é saudável, uma vez que é uma outra empresa, um outro ambiente e devemos estar sensíveis às novas consequências e não só a nossa história anterior. Assim como no jiu-jitsu, é necessário que a gente “se jogue” e esteja disposto a apreender o que essa nova história vai nos ensinar. Nem todas as quedas são iguais. Nas quedas em que geralmente vamos ao chão, podemos ficar machucados. Na queda do exercício dessa arte marcial, também existe a possibilidade de se machucar, mas há a possibilidade de aprendizagem de um novo comportamento, necessário para o seguimento da prática.
Que saibamos diferenciar as possibilidades de queda e possamos nos jogar dispostos a viver às novas experiências de vida de acordo com as novas contingências ambientais.