Esses dias resolvi começar uma outra atividade física: jiu-jitsu.
Gosto de lutas e a que eu fazia não estava legal na academia que
frequento. Como todo início de atividade, sabia que sentiria
dificuldades, só não sabia que a minha dificuldade poderia estar
relacionada simbolicamente às dificuldades que temos diariamente
quando vamos começar algo do zero ou, como diz no texto anterior,
recomeçar a partir de experiências já sofridas do passado. E a
partir da experiência dessa aula, pensei em escrever esse texto
relacionando uma recomendação do jiu-jitsu às nossas dificuldades
de recomeço da vida: a frase “se joga”.
Explico: A prática dessa arte marcial exige que você esteja
disposto a cair no chão e lutar com seu adversário. Na verdade,
grande parte da luta ocorre no chão, no corpo-a-corpo e um dos
passos básicos, exige que você caia para derrubar o outro de uma
forma que você começa com a vantagem. Pois bem, durante a primeira
aula o professor ensinou o passo a passo e quando fui executar,
claro, estava com medo de cair no chão, de forma que o exercício
não estava sendo bem executado. Escutei então, da colega que estava
formando dupla comigo na luta: “Se joga”. Comecei a rir, nervosa,
tentando executar, e ela continuou a repetir a frase. O professor se
juntou a ela na orientação e disse: “vá, não tenha medo, se
jogue”. Dei-me conta então do que significava o “se jogar”, o
ir ao chão com a colega sem ter medo de me machucar, mesmo que o
significado de cair nos transmita medo. Havia o tatame como proteção,
mas ainda assim, como cair sem medo? Aos poucos, fui perdendo o medo
e fui executando o passo corretamente. Saí da aula com uma boa
sensação de dever cumprido e relacionando a frase a vida.
Quando estamos diante de situações da vida que se parecem com algo
que já vivemos, temos o hábito de reagir a elas como se elas fossem
situações que já passamos, mas elas nem sempre são, só parecem.
E ao reagir como reagimos a situações anteriores, muitas vezes,
deixamos de viver novas experiências que poderiam nos trazer
benefícios. Por exemplo, ao terminarmos relacionamentos, ficamos
machucados com a dor do término e podemos ficar receosos diante de
possibilidades de início de outros relacionamentos. Assim, podemos
ter comportamentos de fuga de novos relacionamentos ou simplesmente
não conseguir interagir de fato com outras pessoas de modo que o
relacionamento simplesmente ocorra. (O que a análise do
comportamento chama de esquiva) Ou se alguém for demitido e ao ser
contratado por outra empresa, tender a emitir sempre comportamentos
de fuga de situações que na empresa anterior levaram à sua
demissão, o que não é saudável, uma vez que é uma outra empresa,
um outro ambiente e devemos estar sensíveis às novas consequências
e não só a nossa história anterior. Assim como no jiu-jitsu, é
necessário que a gente “se jogue” e esteja disposto a apreender
o que essa nova história vai nos ensinar. Nem todas as quedas são
iguais. Nas quedas em que geralmente vamos ao chão, podemos ficar
machucados. Na queda do exercício dessa arte marcial, também existe
a possibilidade de se machucar, mas há a possibilidade de
aprendizagem de um novo comportamento, necessário para o seguimento
da prática.
Que saibamos diferenciar as possibilidades de queda e possamos nos
jogar dispostos a viver às novas experiências de vida de acordo com
as novas contingências ambientais.