sábado, 27 de julho de 2019


“A gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu? (...)

“No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega a saudade prá lá ...”

Essa música do Chico me transporta para tantos lugares e tantas situações diferentes, que não há como encontrar um significado fácil dela para minha vida. Mas ela sempre traz uma ideia de quebra de ciclos. E na quebra de ciclos, há sempre recomeços.
Talvez muitos não entendam a minha eterna necessidade de se lançar em busca de algo novo e melhor, porém incerto para minha vida. Talvez muitos não entendam por que eu não cumpro ou pelo menos tento não cumprir a receita e permanecer em uma vida “ok” e relativamente estável. Conversando com uma amiga sobre isso, ao dizer que as vezes pensava que estava fazendo uma loucura, ela me disse: "e você não se acostumou ainda que É louca? Vai e faz teu rumo". 
 Mas talvez muitos consigam perceber o que eu digo. Depois de um tempo em um país novo, você encontra, se aproxima e faz amizades com seus iguais, os imigrantes e que vieram em busca de algo melhor. Não é fácil sair de um país, sair de sua terra, de sua origem. Todos têm muitos motivos para isso. Alguns são bem parecidos. Outros nem tanto. Mas em geral todos vêm em busca de algo que há algum tempo o Brasil não tem: qualidade de vida. Também eu vim. E encontrei.

Mas ao mesmo tempo que encontro qualidade de vida, encontro também a dificuldade de arriscar o novo. E como todo recomeço, como toda aprendizagem, há as quedas, há a angústia. Esses dias eu vi uma criança caindo de bicicleta na rua e chorando. O pai tentava consolar a criança e a incentivava a tentar novamente. Ao meu lado, um amigo português riu e disse: ah, ainda vai cair bastante. Eu observei e comentei: ele ainda está aprendendo. E ele: Sim, mas para aprender ainda vai cair muito, então tem que se levantar para aprender novamente. Era apenas uma criança “a aprender” andar de bicicleta. Mas automaticamente eu fiquei pensando na minha angústia que tinha levado ao convite de sair com ele para conversar: dificuldades de adaptação no país, dúvidas do que fazer, decisões a serem tomadas.

Também eu estou aprendendo novas habilidades: de como desenrascar-me em Portugal. Como viver em Portugal? Há muitas possibilidades. E eu estou procurando a minha. E se tenho a sensação de que estou fazendo tudo que posso, muitas vezes também tenho a sensação de que algumas coisas parecem não andar. Daí a sensação de que a vida estancou. Mas há sempre a outra possibilidade: não terá sido o mundo que cresceu?

Ironicamente, Portugal é bem menor em extensão e população que o Brasil. Mas mudar é aprender um mundo completamente novo. E ah, meu mundo cresceu muito desde que vim para cá. São apenas 7 meses de Portugal. Mas são sete meses de expansão de ideias e de possibilidades. São sete meses de permitir-se reinventar para aprender o que esse mundo tem a me apresentar.
Bom, então, vamos levantar para aprender as novas habilidades que preciso para viver cá. Desejem-me capacidade para recomeçar quantas vezes for preciso, porque recomeçar parece ser o verbo mais presente na nossa vida.