Li em algum lugar agora há pouco que corações seriamente quebrados nunca
são completamente recuperados, assim como alguns ossos do corpo quebrado que nunca
mais serão os mesmos, mas as pessoas vivem suas vidas sem lembrar deles,
lembrando apenas em alguns movimentos que agora são diferentes. Como partes de
corpo com algumas dores e inflamações crônicas, que podem voltar a doer no tempo
frio ou com alguns movimentos repetitivos.
Na verdade, não somos mais os mesmos depois de algumas experiências.
Coração partido é apenas uma delas. Mas também não somos mais os mesmos depois
de morar sozinhos. Não somos mais os mesmos depois de fazer um curso interessante
e que nos fez refletir sobre muita coisa. Como também não somos mais os mesmos
depois de uma experiência religiosa. As pessoas que são mães e pais também
afirmam que após o serem também nunca mais serão os mesmos, independente de
como estejam os filhos.
Estamos em constante movimento. E na iminência da mudança das estações, árvores
mudam completamente de um dia pro outro. E algumas levam marcas antigas em seus
troncos. Mas continuam ali, florescendo na primavera e perdendo suas folhas no
outono, permanecendo desfolhadas em um tempo de resistência, mas também
permanecendo floridas enquanto o tempo lhe permitir.
E aí, independente de não sermos mais os mesmos, de levarmos marcas que nos
acompanharão, viveremos novamente e passaremos por outras situações. Algumas nos
farão lembrar outras. Outras, serão completamente diferentes e nos farão ter
outras marcas. Algumas podem não ser tão profundas. A verdade é que aprendemos
a lidar de diferentes formas às experiências. Aprendemos a reconhecer algumas
situações e alguns sinais. Minha mãe e minha avó costumavam dizer que sinal de
chuvas longas eram formigas com asa ou mosquitos. Já Luiz Gonzaga foi um pouco mais poeta e lembrou das flores de mandacaru que antecedem as chuvas no sertão. De onde eu vim era assim, mas
aqui em Portugal já não sei reconhecer sinais que antecedem as grandes chuvas e
não lembro de ter visto uma só formiga ou mosquito anunciando chuvas no
inverno. Posso passar tempos sem ver formigas com asas. Mas no dia que vê-las,
vou lembrar e procurar outros sinais que pareçam com as situações que antecedem
as grandes chuvas no Nordeste Brasileiro.
Quem já passou por experiências dolorosas aprende a ver alguns sinais e a
evitar algumas situações. Já dizia outra frase da minha mãe e da minha avó:
gato escaldado tem medo de água fria. É verdade que não podemos deixar o medo
nos paralisar. Não é porque tive uma ou algumas situações ruins que todas as
outras serão assim. Ou serão boas por algum tempo. E quando começar a fazer mal
é hora de perceber os sinais que antecedem coisas ruins. É possível que ainda fiquem
dores. E tudo bem senti-las novamente. Saber reconhecer alguns sinais de algo
doloroso não nos torna insensíveis a elas. E que bom que não. A dor é importante
pra nos avisar que há algo errado e que é preciso cuidar.
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