terça-feira, 1 de outubro de 2019

Um reflexão sobre ser mulher a partir da leitura do livro "Mulheres que correm com os lobos"


“Os lobos saudáveis e as mulheres saudáveis têm certas características psíquicas em comum: percepção aguçada, espírito brincalhão e uma elevada capacidade para a devoção. Os lobos e as mulheres são gregários por natureza, curiosos, dotados de grande resistência e força. São profundamente intuitivos e têm grande preocupação para com seus filhotes, seu parceiro e sua matilha. Tem experiência em se adaptar a circunstâncias em constante mutação. Têm uma determinação feroz e extrema coragem." (pág. 7)


Esse trecho é do livro “mulheres que correm com lobos”, da Clarissa Pinkola Estes. Há algum tempo me debruço sobre ele sempre que ando às voltas sobre questionamentos do feminino. Traz considerações extremamente interessantes sobre o arquétipo feminino. Dentro do mundo acadêmico da psicologia, sempre fui mais voltada à análise do comportamento e não à psicologia junguiana, que estuda mais fortemente a questão dos arquétipos. Entretanto, na minha vida profissional tentei sempre buscar a abertura e tentar relacionar outros assuntos à visão de mundo e de homem da Análise do Comportamento. Afinal, já disse Skinner: “não aceite a verdade eterna, experimente”. A vida de uma questionadora, curiosa e metida a pesquisadora perpassa pelas coisas novas que as reflexões nos convidam.
E eis que mais recentemente, diante de algumas questões que estão acontecendo na minha vida pessoal e profissional, deparei-me novamente com a leitura desse livro e a reflexão do ser mulher. O que é ser mulher? Talvez aqui cada uma de nós responda a essa forma de um modo diferente. Algumas podem trazer questões relacionadas a uma feminilidade tradicional. Outras, podem refletir que se trata de força e superação diária frente aos preconceitos enfrentados diariamente em nossa sociedade. Mas nesses diferentes discursos, não há nada que possamos encontrar de comum? A forma como cada uma de nós encontra de ser mulher não traz uma questão comum?


Nesses momentos eu gosto sempre de me lançar à história. Historicamente, nós mulheres sempre tivemos uma certa orientação social de como deveríamos nos portar. Afinal de contas, o que eram as revistas dos anos 50 sobre como a mulher deveria tratar o marido ou cuidar da casa de uma determinada forma? Houve sempre uma certa orientação para que estivéssemos à sombra ou à margem de uma sociedade. Mas nem todas as mulheres comportaram-se assim. Debruçando-se sobre a história de diversas áreas é sempre possível encontrar mulheres que se dedicavam a fazer trabalhos que eram, em sua maioria, ocupados por homens. No nascimento de novas perspectivas, como a química ou a física moderna, a psicologia enquanto ciência, o cinema, a arte, sempre, se buscarmos, vamos encontrar nomes femininos no meio de tantos nomes masculinos. Houve tentativas de silenciamento delas? Claro. Mas elas resistiram. E hoje são resgatadas pelo movimento feminista como forma de dar visibilidade.

Talvez seja esse um denominador em comum diante de tantos diferentes discursos sobre o que é ser mulher. A resistência. Clarissa Estes fala isso ao refletir sobre a mulher selvagem, ao dizer que uma das características presentes na mulher e no lobo é a resistência e a força. Ao usar o termo mulher selvagem, a autora reflete ainda que essas palavras refletem o significado de tocar o instrumento do nome para abrir uma porta. Abrir passagem. E é isso que nós mulheres fizemos e continuamos a fazer. Abrir passagens.

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