domingo, 22 de dezembro de 2019

Mudaram as estações... e muita coisa mudou



E oficialmente começa o inverno. O meu segundo. Que venha. Quis escrever algumas coisas sobre o outono, mas não consegui parar e escrever. Então hoje despeço-me dele. A sensação de viver o outono tinha um certo quê de poesia pra mim. Todas as pessoas que já estavam aqui em Portugal me diziam que era a sua estação favorita ou a estação mais bonita. As árvores com parte das folhas laranjas/amarelas a cair. Sim, o outono é lindo. Mas eu não sabia como ele era. Eu só sabia que as folhas caíam, mas nem ao menos entendia direito o porquê, já que até as explicações científicas sobre isso não ficaram bem guardadas na memória, já que quatro estações do ano bem definidas nunca foram realidade pra mim. Como dizemos nas nossas brincadeiras com base na realidade, de onde eu venho temos duas estações: o verão e o forno.



Bom, meu outono real apresentou-me a chuva seguida por cinco ou seis semanas. Foram dias sem ver o sol. Algumas chuvas de granizo anunciavam-me que se o inverno que eu cheguei tinha sido “tranquilo”, como muitos disseram, esse já não deve ser tão tranquilo assim. O frio havia chegado cedo. E eu passei a entender textos académicos que tinha lido acerca da relação entre chuva, frio e depressão. Eu perguntava-me o quanto as estações realmente influenciavam no nosso humor. Eles passaram a fazer muito sentido para mim. A chuva constante, o vento das tempestades e o frio não anima as pessoas a saírem de casa, a não ser que seja estritamente necessário. E bom, obrigação e má vontade não deixa ninguém simpático, não é?

Sair menos de casa e falar menos com as pessoas obriga-nos a conviver mais consigo mesmo. E bem, é preciso saber conviver em solidão e transformá-la em “solitude”, achar companhia em si mesmo, com nossos medos construídos e alimentados ao longo da vida. Como diz a brincadeira sobre a ansiedade, que pode estar presente nesses dias mais solitários, o mal do ansioso é achar que tudo é sobre ele. E conviver mais consigo pode nos levar a achar que muita coisa é sobre nós, quando nem é. Que muita coisa não tem solução, quando tem.



O outono real chamou-me a valorizar mais os dias de sol as nossas possibilidades de vida. O outono tem sim uma beleza indescritível com as folhas laranjas nas árvores e uma poesia bucólica que me fez parar nas ruas para admirar as cores das folhas e das árvores. Não foram momentos tão comuns, já que nem sempre era possível passear tranquilamente pela rua, mas os que me foram possíveis, fizeram valer a passagem pelo outono.


Acabou o ano, mudaram as estações... e ao contrário da música, muita coisa mudou. Não só nas estações e nas aparências. As folhas renasceram, vieram as flores, os arco-íris, o calor, o verão, a praia e um acampamento. Chegou o outono com um friozinho gostoso no início, que logo deu lugar a semanas de chuva e frio e agora cá estamos com o inverno de novo. Mas para além disso, nas estações eu fui me descobrindo em uma nova roupagem e fui descobrindo como é viver em Portugal. Tive e tenho certeza que ainda terei muitos contratempos e muitas dificuldades. Mas foi um ano maravilhoso. Abaixo, as fotos de árvores bastante observadas no meu caminho e que me fazia parar e refletir às vezes. A frase que sempre me vem à mente é a da poeta carioca Cecília Meireles: "aprendi com a primavera a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira". A oportunidade de ver o o quanto as árvores mudam no decorrer dos dias e das estações, mas permanecem ali, e, em algum momento, voltam a estar inteiras fazem-me refletir sobre o quanto podemos mudar e nos adaptar ao momento que vivemos, mas ao mesmo tempo, permanecemos inteiros.


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